Nasci mulher, é um facto indiscutível, irremediável, um soneto que nunca foi escrito. Cresci menina, concordo, de pernas cruzadas, cabelos alinhados. Vivi madura, é certo.
Aprendi a traçar os olhos, a disfarçar as lágrimas, a não borrar a maquilhagem. Sonhei em criança ser feliz. Escrevi no diário alguns dos meus passos, acreditei nos planos que fiz, colhi meus frutos, uns bons outros menos bons.
Provoquei emoções, faz parte. Ensinei meus truques, tentei transmitir tudo o que sabia às minhas filhas.
Briguei muito na vida, gritei. Tive alguns conflitos amargos, mas, muitas mais alegrias, tive muitos dilemas e acabei por gostar muito de ler poemas. Parti muitos espelhos, de raiva
Escondi a dor, distribui amor, superei o tempo.
Amei demais, está em mim. Mulher sem amor não existe.
Atraí desejos, muitas vezes sem saber, outras sabia e não liguei
Caminhei muito e caí, mas sempre me levantei. E não pretendo mudar.
Arregacei as mangas tantas vezes, que já perdi a conta
.
Mas... quer saber?
É muito bom ser mulher!
Não troco por nada, por ninguém. Volto assim mil vezes, se puder. E quando o véu da noite, de inveja e despeito me levar, que o amor que distribui, os frutos que plantei, venham, enfim, me regar.
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